Sunday, February 3, 2008

Um Mundo Sem Distâncias

“C.o.: (…) Como é que são as transformações da nossa ligação com o espaço e o tempo? Há teóricos como Paul Virilo- aos quais não é realmente estranho um tom moralizador - que afirmam que a nossa evolução nos leva à perda cultural de nós próprios. Virilo, como sabes, fala de uma poluição dromosférica, ou seja, de uma destruição do ambiente pelo excesso de velocidade. Talvez pudéssemos aderir à opinião dele, pelo menos no ponto em que a força descritiva da sua análise permite uma adesão. Portanto, quando Virilo evoca, por exemplo, a perda da distância como conseqüência da nova comunicação em massa, uma perda provocada não só pelos media de imagem mas também aviões, faxes, telefone e afins.
A catástrofe seria a presença simultânea de todas as coisas e, como diz Baudrillard, que todas as nossas utopias estivessem prontas a ser realizadas. Rodopiaríamos no presente, saturados de morte, rodeados de sonhos transformados em realidade; e o espaço, acrescenta Virilo, contrair-se-ia até apenas formar um ponto colante no qual nos situaríamos como se partilhássemos um apartamento com espectros. È a razão pela qual, segundo diz, teríamos um sentimento de perda do mundo igual a uma perda de nós próprios. Que dizes deste diagnóstico? De que modo se alterou a nossa relação com o espaço, com a natureza interna e externa?


Ensaio Sobre Intoxicação Voluntária (Diálogo com Carlos Oliveira),Sloterdijk, Peter, Ed. Fenda, trad. Cristina Peres, 1999.

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